Objekt 640 e Objekt 775: ensaios para o futuro MBT do exército russo

Objekt 640 e Objekt 775: ensaios para o futuro MBT do exército russo

 

 

 

Autor: Vympel 1274

Sugestão de Lucas Urbanski

Plano Brasil

As abordagens das escolas de desenvolvimento de táticas para o uso de blindados dos países ocidentais são diametralmente diferentes das defendidas pela escola de emprego de blindados da União soviética e da atual Rússia. Os ocidentais priorizam a blindagem, aumentando o peso de seus veículos chegando por vezes a até 70 toneladas (M1A2 Abrams), cujo suas atribuições são mais defensivas, em virtude do seu emprego ser condicionado á superioridade aérea provida pela força aérea. Em contrapartida, os russos preferem priorizar o engajamento á longa distância, a baixa detectabilidade do veículo e a sua mobilidade, devido a necessidade de seus carros de combate operarem em conjunto com a infantaria e helicópteros de combate. Essas necessidades incluem o deslocamento rápido em longas distâncias (o que é lógico para os russos, devido ás características de seu território). Essa característica de “deslocamento rápido” foi provada durante a Segunda Guerra Mundial e (é claro que com algumas modificações necessárias) ainda aplicam-se nos dias de hoje.

Repotencialização de sistemas já existentes

Com a inestimável experiência adquirida no Afeganistão e, em especial na Chechênia, os russos colheram dados que puderam comprovar a obsolescência de certas características de seus carros de combate, pois seus parâmetros de desenvolvimento eram os mesmos da década de 70/80, e estes eram idealizados para os requerimentos operacionais de uso tático e estratégico preconizados pela doutrina militar soviética daquele período.

Nesse ínterim, devido ao brutal corte no orçamento militar, a Rússia teve seu parque industrial prejudicado pela falta de encomendas de grande vulto, como nos tempos soviéticos, forçando o país a manter “núcleos de desenvolvimento tecnológico”, que recebiam recursos provenientes da venda de material militar para a China e outros países, com a finalidade de manter elevado o nível de desenvolvimento tecnológico nacional. Tal medida salvou os escritórios (Bureau) mais relevantes da falência e da obsolescência, inclusive proporcionando aos mesmos o desenvolvimento de novas tecnologias, os quais são por muitas vezes superiores aos dos países do ocidente.

Com a recuperação econômica da Rússia, estão sendo desenvolvidos projetos de armamentos com a finalidade dos mesmos serem superiores aos seus equivalentes ocidentais, com a incorporação de novas tecnologias e novas prioridades em seu projeto, além de serem produzidos em número suficiente para substituírem os equipamentos atualmente em uso. Tais tecnologias surgiram inicialmente com o mercado de repotencialização de carros de combate de fabricação soviética / russa da geração anterior.

Como medidas de repotencialização dos mesmos, foram definidas as seguintes prioridades:

  • Aumento da resistência do carro de combate contra impactos diretos, através do aumento da eficiência de sua blindagem (pois a mesma era de aço homogêneo, utilizado durante a década de 70), com o desenvolvimento de blindagem composta e com a utilização de módulos removíveis de blindagem explosiva reativa (ERA), inclusive no alto da torre;
  • Mudança do sistema de recarregamento automático, pois o adotado pelos carros de combate anteriores impedia o uso de munições APFSDS de maior comprimento;
  • Mudança do local de armazenamento da munição do armamento principal (canhão de 125 mm), pois como pode ser comprovado em combate real, o armazenamento da munição dentro do veículo era fatal para toda a tripulação do mesmo. Se porventura esse local fosse atingido, a munição detonaria, matando toda a tripulação e arremessando a torre do veículo para o alto;
  • Desenvolvimento de sistemas de proteção passiva “Soft kill” (Shtora) e ativa “Hard kill” (Arena e Drozd), sendo os mesmos complementos da blindagem composta reforçada por ERA, compondo um sistema de proteção em três fases;
  • Melhoramento das características furtivas do veículo (distância de engajamento, assinatura térmica e visual e baixa detectabilidade por radares;
  • Aumento na distância de engajamento, através do desenvolvimento de novos sensores e do armamento principal, aumentando seu calibre (de 125 mm para 135, 140 ou 152 mm), velocidade inicial do projétil (> 2000 m/s) e da letalidade, através do desenvolvimento de mísseis guiados disparados pelo armamento principal (Ex: AT-11 “Sniper”), inclusive dando ao veículo capacidade contra helicópteros de ataque.

Devido as restrições econômicas do orçamento militar e a necessidade de recursos em praticamente em todos os setores, certos projetos tiveram seu desenvolvimento e sua entrada em serviço adiadas por anos (Ex: PAK FA para a força aérea e o novo MBT do exército russo a ser definido), ocasionando um “gap” tecnológico nos setores das forças armadas que os utilizariam. A grande vantagem disso é que novas tecnologias vão sendo incorporadas á esses projetos, o que os tornam mais atuais, enquanto suas falhas em potencial são solucionadas. No caso específico do novo MBT para o exército russo, a grande frota de MBT da Federação Russa (23.000 dos tipos T-64, T-72, T-80 e 400 dos novos T-90) garante um poder dissuasório mais que suficiente, tornando sua substituição não tão urgente, dando mais tempo para a definição das características do novo carro de combate a ser adotado futuramente pelo exército russo.

Neste quadro de situação, os escritórios de desenvolvimento de carros de combate (Transmash Omsk e Uralvagonzavod) desenvolveram projetos que serviram de “demonstradores de tecnologia” (Objekt 640 “Águia negra” e o Objekt 775 “T-95”), visando demonstrar a possibilidade da incorporação dos mais recentes avanços no campo da tecnologia militar ao futuro carro de combate a ser adotado pela Federação Russa.

Objekt 640 (Орёл Чёрный, Chyornyh Oryol, Águia negra)

 

Histórico de desenvolvimento

O carro de combate “Black Eagle” (modernização profunda do T-80U e também conhecido como “Object 640″) foi concebido como um carro de combate de quarta geração, que inclui muitas soluções inovadoras e promissoras, muitas delas adquiridas no conflito da Chechênia. O “Black Eagle” foi desenvolvido no final dos anos 90 pelo Omsk Transportes Machine Building Design Bureau. O primeiro protótipo, demonstrado em 1997, consistia em um chassi do T-80U com a torre do novo design, alem de outros melhoramentos.

Principais características:

O desenho do veículo reduziu a sua altura, em comparação com o T-80, em 400 mm, fazendo o “Black Eagle” o veículo mais baixo da sua classe. O arranjo horizontal de munição na parte traseira da torre de permitiu a utilização de munições perfurantes mais poderosas e de maior comprimento, bem como simplificou o sistema de carregamento automático, aumentando também a cadência de tiro.  O Águia Negra poderá estar equipado com um radar de busca aérea de onda milimétrica, que avisa a tripulação sobre aeronaves inimigas e helicópteros dentro de um alcance de até16 km.

Motorização

O tanque é equipado com um novo do tipo de turbina a gás, com mais de 1500 hp e terá um peso de combate de cerca de 50 toneladas, significando uma proporção de 30 hp / ton. Como resultado, as características dinâmicas do Águia Negra devem ultrapassar significativamente o desempenho dos tanques ocidentais, com potência de 20-25 hp / ton.

Armamento principal

O protótipo do Chiorny Oriol, mostrado em 1997, foi exibido com um armamento principal de calibre 125 mm. Provavelmente será substituído por um canhão de 135 mm, 140 mm ou até de 152 mm. Ele terá um alcance eficaz de até 10 km. Será capaz de disparar mísseis guiados anticarro que através do tubo da arma principal da mesma maneira que as munições normais. O armamento secundário é composto por uma metralhadora coaxial calibre 7,62 mm e uma metralhadora de calibre 12,7 mm controlada remotamente de dentro do veículo.

Armamento principal

O protótipo do Chiorny Oriol, mostrado em 1997, foi exibido com um armamento principal de calibre 125 mm. Provavelmente será substituído por um canhão de 135 mm, 140 mm ou até de 152 mm. Ele terá um alcance eficaz de até 10 km. Será capaz de disparar mísseis guiados anticarro que através do tubo da arma principal da mesma maneira que as munições normais. O armamento secundário é composto por uma metralhadora coaxial calibre 7,62 mm e uma metralhadora de calibre 12,7 mm controlada remotamente de dentro do veículo.

Proteção da tripulação

O carro de combate é dividido em três compartimentos lacrados e isolados um do outro, instalados ao longo do eixo longitudinal do veículo. No meio da seção de controle estão localizadas as separações associadas com o compartimento da tripulação, e em compartimentos laterais são localizados os tanques de combustível. Todos os membros da tripulação são colocados abaixo do nível da torre. O acesso aos seus locais são através de portas no chassi para o motorista e a do comandante e do artilheiro na torre.

Torre

O Black Eagle tem um elevado grau de proteção contra uma grande variedade de armas anticarro. O Águia negra tem uma blindagem frontal muito grossa e inclinada, composta por blindagem reativa de nova geração (Kontakt – 5 ou Relikit), do mesmo tipo utilizado na parte superior da torre. A posição do motorista foi movida para a parte traseira do chassi, para uma melhor proteção frontal.

As placas de blindagem reativa em grandes ângulos na torre (ERA “Kaktus”) proporcionam uma maior proteção do veículo contra danos causados por projéteis perfurantes.

Mecanismo de carregamento automático

O sistema de armazenamento de munição é de um modelo independente e destacável da torre do veículo, o qual se atingido, não ameaça a tripulação do mesmo (diferentemente dos modelos russos/soviéticos anteriores) e pode ser substituído em questão de poucas horas. As munições estão disponíveis em um carregador automático instalado na retaguarda da torre e executado sob a forma de um módulo removível com painéis blindados, que se abrem no caso de detonação.

 

Sem dúvida esse é o maior desenvolvimentos do Black eagle, devido ao fato do mesmo romper com os sistemas de recarregamento automático anteriores, estabelecendo um sistema melhor e completamente novo.

Em contraste com os seus homólogos nacionais e estrangeiros, o quantitativo de munições transportadas no Black Eagle aumentou para 32 tiros, em comparação com os 22 tiros do T-90, 28 tiros do T-80U e 22 tiros do Leclerc francês.

O novo modelo veio a resolver a principal deficiência dos modelos de carregadores automáticos utilizados pelos carros de combate russos / soviéticos anteriores. O antigo sistema previa armazenagem da munição dentro do veículo, sob o compartimento da tripulação. Esta ação ocasiona a conhecida “ejeção da torre”, observada nos T-72 atingidos durante a Guerra do Golfo. O sistema de carregamento automático do Águia negra é feito horizontalmente e a partir do de um compartimento blindado de munição localizado á retaguarda da torre, sendo o mesmo mais simples e mais rápido (até 12 tiros por minuto) que o modelo anterior, permitindo o uso de munição APFSDS (munição cinética perfuradora de blindagem com calço descartável estabilizada por aletas traseiras) mais longa e também faz com que o veículo seja 40 centímetros mais baixo que o T-80U. Como já é sabido, o canhão 2A46M de alma lisa também pode disparar mísseis anticarro guiados.

Proteção

A proteção é dividida em três níveis e envolve a preservação de sua eficácia em combate no campo de batalha e na capacidade de recuperação após danos em combate. Isto é conseguido através de uma proteção balística integrada, dinâmica e poderosa, combinada com características de projeto do veículo. Estas medidas permitem que o Águia negra tenha uma proteção eficaz inclusive na parte superior da torre contra as mais diversas munições anticarro (BILL-2, Javelin e submunições anticarro de impacto direto). Os recursos de segurança podem ser facilmente substituídos com um custo mínimo em um curto espaço de tempo, devido á modularidade das ERA de fabricação russa. A parte superior da torre tem uma blindagem de múltiplas camadas (Kontakt – 5) para proteger o veículo contra ameaças que venham do alto.

O primeiro nível de proteção do Águia negra é um sistema complexo, que detecta e suprime a vigilância eletroóptica á uma distância de 5500 m ou mais. O conhecido complexo “Shtora”, que em suas mais novas versões (“Shtora-6” e “Shtora-8B”), incluem receptores laser localizados nos setores frontal e traseiro (instalados no alto da torre) e um módulo removível para o lançamento de granadas fumígenas de bloqueio de feixes de laser.

O segundo nível de proteção incorpora os sistemas de proteção ativa dos modelos “Drozd – 2” ou “Arena” que prevê a detecção e a destruição de armas guiadas anticarro que se movam na direção do veículo, á uma distância segura, sem danificar o mesmo.

O terceiro nível de proteção compõe-se da blindagem composta do veículo (feita de cerâmica, aço e materiais sintéticos), reforçada por blindagem explosiva reativa (ERA) modulares, sendo as ERA demonstradas atualmente nos protótipos do Águia negra dos modelos RELIKIT, KAKTUS e a KONTAKT-5.

O sistema de controle de fogo

O complexo de informação a bordo oferece controle sobre todos os grandes sistemas do veículo e compartilha informações com outros veículos e com seus comandantes superiores. Inclui o artilheiro e o comandante do veículo com funcionalidade igual, cada um dos quais estão equipado com uma mira eletrônica padronizada, com um controle remoto multifuncional. Esta mira fornece imagens térmicas, topografia e situação tática, além de informações sobre a condição técnica do veículo.

Os sistemas de controle podem ser equipados com sistema de armas adicionais, que estão relacionados com o canal de troca de informações entre o artilheiro e o comandante, os controles da linha de visão de pontos de referência, computador balístico, estabilizador do armamento principal e do mecanismo de carregamento automático, além do sistema GPS “Glonass”.

Emprego de munições AC guiadas

Carros de combate dos modelos T-80 e T-90 equipados com mísseis guiados “Reflex-M” do complexo “Invar-M, tiveram suas capacidades fundamentalmente muito ampliadas. Sua capacidade de engajamento superou de 2 a 2,5 vezes o alcance do fogo de retorno de qualquer carro de combate moderno. Isso permite que os carros de combate equipados com este sistema possam vencer a batalha antes de entrar na zona de fogo efetivo dos carros de combate inimigos.

Em simulações no polígono de tiro contra viaturas M1A1 Abrams (10 carros de combate T-90 contra 10 carros de combate modernos M1A1) mostrou que, começando o engajamento á uma distância de 5000 m, o T-90 tem um intervalo de 2000 - 2500 metros para atingir cerca de 50 a 60% dos tanques inimigos. A superioridade numérica determinou o resultado da batalha a curta e média distância com as táticas do inimigo. O T-90 venceu a batalha, sofrendo perdas mínimas.

Sistema AT-11 “Sniper”


Objekt 775 (T-95)

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